Entro no carro. Tento acertar na estrada mas o fumo impossibilita a visão. À minha volta, sirenes e correria. Os restantes condutores olham-me também assustados, sem saber se a viagem terminará.
Pelo caminho, são às dezenas as enormes colunas de fumo preto, espesso, estrategicamente bombardeadas a um ou dois quilómetros de distância entre si, que espalham o negro pelo céu e as cinzas pelos impotentes e exaustos espectadores.
Abrando. Dou por mim a entrar numa nuvem escura, com um calor abrasador e, a muito custo, avisto um dos intermitentes do carro que vai à minha frente. A um metro de distância, sigo a sua direcção rezando para que este consiga ver mais do que eu.
Quase atropelo, de seguida, uma das cinco pessoas fardadas, pretas de cinzas, que gesticulam em jeito derrotado para passar pela faixa da esquerda. Entendo porquê: à minha direita, colada a um alcatrão a derreter, uma parede de 4 metros de fogo colérico, a rugir, e sinto a minha cara a queimar como se me tivesse deitado numa lareira.
Do outro da estrada, um miúdo, completamente sozinho, derrapa no declive de terra com um ramo na mão, tentando bater numa chama que teima em aumentar para além das suas possibilidades. Cai outra vez, levanta-se outra vez, luta outra vez. Olho à volta e pergunto-me para onde fugir se ficar presa ali. Sinto as lágrimas a correrem-me pela cara, sinto o meu corpo a tremer, respiro fundo e sigo para a próxima nuvem a dez metros... Repetitivamente, a mesma emoção, durante cento e tal quilómetros.
Iraque? Afeganistão? Não: Europa, Portugal, A1, sentido norte-sul, numa 6ª feira de Verão.
terça-feira, agosto 09, 2005
A guerra mesmo aqui ao lado
Publicada por What's in a name? à(s) 17:12
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1 Comment:
Eh lá!... Corro o sério risco de os comentários começarem a ficar mais interessantes que o próprio blog! ;-)
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